sábado, 31 de janeiro de 2009

Viver



por Lia Freitas Oliveira


As coisas e as pessoas me impressionam. Tudo que faz parte da vida me vem de súbito como uma thauma ¹. Mesmo sendo a vida algo tão corriqueiro e comum a mim desde o dia em que minhas células se aglomeraram.
Tão simples e ao mesmo tempo tão impressionante. O mundo, as coisas, as pessoas, o ar, a água, o pulsar do coração, o cheiro da chuva que chega, uma música, sorrisos, abraços, ódios, paixões, amores... Incontestáveis coisas! Tudo isso parece-me a vida, ao mesmo tempo em que ela também se apresenta a mim como uma única célula, com toda sua miudeza e especificidade.
A vida é tão forte e intensa dentro de nós... Nós somos vida. Fora de conceitos formais das ciências e filosofias, mas sem mim, a vida existira? Complicado isso, porque eu também sem vida não existiria. Eu sou vida! Pura vida! Princípio de existência, inconstante e intensa, calma e entediante. Sou imanente nela e ela em mim. Por que reclamar? Por que, então evita-la? Ai de mim se não fosse ela! Por isso digo que as coisas e pessoas me impressionam.
Homens do mundo inteiro correm com medo de sua falta, medo da morte e ao mesmo tempo reclamam, resmungam, murmuram da vida e de tudo que ela oferece. Não compreendem que a beleza de tudo está nela? Não compreendem que ela é o “sopro” que nos mantém em pé todos os dia, prontos para sentir, amar, odiar, gritar... E como é bom tudo isso! É o que nos mantém vivos. Isto é o que prova-nos a vida, prova-nos a nós mesmos. Traz sentidos e clarezas ao olhar cansado e insaciável do homem. Viver nos basta... isso traz em si todos os sentido, é o sentido maior!
A natureza é vida. Somos parte de um todo indiscutível. Portanto celebremos! Celebremos com aquilo de melhor que sabemos... vivendo!
Nós homens temos medo de nossos próprios potenciais e possibilidades. Temos medo de apenas ser o que realmente somos. Procuramos rótulos e máscaras, qualquer coisa que nos faça parecer aquilo que NUNCA seremos: inumanos.
Viver é jogar-se em um poço profundo e escuro, em que não se pode ver o seu fim. E será que existe fim? E o futuro? O que é o amanhã?
Assim como já disse Renato Russo: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. Se pensarmos dentro de preceitos lógicos , sim, claro que existe o amanhã, o hoje e as horas, mas em si mesmas essas coisas todas são só pura convenção.
Prendemos-nos e vivemos escravos desse chronos. Nos agarramos com todas as forças numa escada feita de barro chamada “futuro”. E simplesmente esquecemos de nós mesmos, do quem somos por essência, esquecemos que somos vida. Perdemos todos os sentidos do que é ser “ser vivo”. Privamo-nos e temos medo de tudo e todos. Oh céus! Por quê? As possibilidades são tão lindas. E como são lindas! A escolha é o que nos move, é o que legitima nossa humanidade em toda sua razão e complexidade. Por que, então ter medo dela? Temos que reaprender a sermos homens (se é que um dia soubemos ser). “é preciso saber viver”!
Certa “vez Cristo disse: “e não vos preocupeis com o dia de amanhã” e também, “ no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Há total singularidade entre essas duas citações. Cristo disse resumidamente: vivam! Não se preocupem com aquilo que é natural do viver, apenas vivam com intensidade e consciência. Dores, alegrias, vitórias e derrotas, tudo isso faz parte do viver, pois viver já é nossa maior vitória!
Sejamos humanos em toda beleza. Beleza essa que também inclui o “mal”. Sejamos o que somos com todos os nossos paradoxos, pois o conflito é o que nos motiva a pensar, mudar, viver. Esse eterno devir é o que somos, por mais que finitos (ou não). Quem sabe o que nos espera? Que bom que não temos essa certeza! Assim podemos pairar e dançar conforme a música que o mundo toca.







1. Thauma: do grego, significa pasmo, admiração, perplexidade.

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