terça-feira, 21 de outubro de 2008

A volta pra casa


Por: Carlos Bezerra

(Lucas 15: 17-18)


Reflexão:

Quando eu tinha 17 anos, vivia a época onde o surf era quase que diário na minha vida. Contava os dias que não surfava.
Em meio a essa época lembro que surgiu no prédio onde eu morava uma nova moradora.
Lembro também que rolou um interesse e que fui obter mais detalhes sobre ela.
Ela era recém divorciada e tinha dois filhos. Lembro que isso de maneira alguma fez diminuir meu interesse e com o passar dos dias fomos nos aproximando, nos conhecendo.
Começamos a namorar e como nessa vida nada se faz escondido lembro que a notícia chegou no apartamento dos meus pais.
Meu pai não gostou muito da idéia pois éramos cristãos católicos e ele com sua sabedoria sabia as complicassões que poderiam ocorrer.
Eu não pensava em nada, estava apaixonado e querendo viver aquela história de qualquer forma. Lembro que como não tinha muito papo com meu pai, soube da sua não aprovação por minha mãe e fiquei pensando como resolver aquele impasse. Lembro que escrevi uma carta desabafando, dizendo que eu sabia o que queria pra minha vida, que era livre e coisas desse tipo.) Fiz a carta e coloquei na gaveta dele, no seu quarto.
Fiquei esperando pra saber o resultado e quando foi mais tarde perguntei a minha mãe se ele tinha lido. Ela disse que ele leu e que falou pra ela que iria guardar aquela carta.
Pronto, parecia que agora eu estava livre pra viver a minha história.
E comecei a viver a história. Namoramos, saíamos com as crianças. Na verdade havia um sentimento sincero da minha parte e creio que pela destruição do lar e por afinidades também havia da parte dela.
Só que eu vivia uma vida de permanente tensão. Sempre com a sensação e a intervenção do pai das crianças.
Nada contra pessoas divorciadas mas o que quero ilustrar aqui não é pelo fato da moça ser divorciada.
Como a separação era muito recente, ela tinha ido morar no meu prédio justamente por causa disso, ela vivia se comunicando com o ex-marido e pai das crianças.
Aquilo me dava insegurança, como estava vivendo algo que sabia não ser o que agradava o coração de Deus, vivia com a sensação de cansaço e estar fazendo algo por minhas próprias forças.
Namoramos durante mais de dois anos até que um dia ela me diz que o ex-marido fez a proposta de voltar pra casa, de reconciliar.
Aquilo me pegou de surpresa e eu fiquei meio que desorientado porque era algo que mesmo inconsciente eu vivia combatendo dentro de mim.
E ela disse que estava querendo voltar e que sabia que eu deveria continuar minha vida e procurar o meu caminho.
Pronto, aquilo fez realmente meu chão desaparecer. Estava perdido e lembro que na primeira semana de separação, quando o ex-marido estava lá transitando na casa, no prédio eu ficava como se estivesse todo moído por dentro.
Tanto que um dia disse pra minha mãe que iria pra nossa casa de praia e que ficaria lá um tempo.
Fui, viajei pra nossa casa de praia que ficava há 75 km de onde estava morando.
Cheguei, abri a casa. Triste, montei minha rede no terraço e me deitei lá. A varanda tinha o lado poente e como era umas 14:30h pras 15:00h tava fazendo sol.
Nem me importava, tava lá deitado na rede, triste. Não sabia com faria pra retornar a minha vida.
Aqueles dois anos se passaram em minha alma amargamente. Lágrimas, vergonha dos meus pais e amigos que me afastei por tentarem me tirar daquela história com um simples intúito de me poupar de algo do tipo.
Ao contrário do filho pródigo do versículo que lemos no início, eu não tinha coragem de voltar pra casa, de pedir perdão. A vergonha e o orgulho ainda doíam muito e eu queria ficar ali até o fim do mundo.
Lembro que de repente o portão se abre. Era meu pai que entrava pelo terraço em minha direção.
Ele chega com um olhar de pai, de quem olha pro filho e vê que ele não está conseguindo amarrar o tênis. Um olhar com um riso no canto, de amor. Ele fica parado na minha frente olhando pra mim e de repente estende a mão e diz: Vamos pra casa filho, sua mãe está lá lhe esperando, vamos pra casa.
Lembro que segurei a sua mão, chorei no seu ombro e ele dizia: Vamos pra casa. Vamos continuar nossa vida.
Fechamos nossa casa de praia e voltamos pra casa. Toquei minha vida, hoje sou casado há 14 anos, tenho um filha adolescente.

Muitas vezes nos sentimos tão inseridos em problemas que não temos coragem de retornar pra casa. Meu pai é um homem assim como eu e você, pecador e limitado. O amor dele me fez ver o quanto Deus nos ama.
Quantas vezes achamos que vamos ficar nas nossas redes o resto da vida! Vivendo uma vida doentia, de amargura, de tédio de frustação, mágoas sem coragem de sair dela.
Deus se coloca na nossa frente com a mão estendida nos chamando de volta pra casa. Seja através de amigo, de um livro, um pregador da Palavra, seja no seu grupo de colegas de trabalho, escola ou praia. Deus se manifesta na nossa vida em todas as situações. Até numa brisa leve, se buscarmos sensibilidade, veremos Deus nos chamando a retornar pra casa.

Não deixe a próxima oportunidade passar. Volte pra casa do Pai.

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